Cada encontro está carregado de perda. Ou de perdas. Ou é invadido por uma inexplicável melancolia. O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores. Cada desencontro é perda porque é o oposto do que teria sido uma possibilidade de afeto.
É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite.
Mas por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda. E no ato de sentir-se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.
Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um “E depois?” após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada.
Que intenso é o efeito que a coleção de encontros e desencontros que acumulamos na vida tem sobre a nossa personalidade, a forma como nos relacionamos com as pessoas e como interpretamos as diversas atitudes das pessoas importantes para nós.
Durante a vida, enquanto adquirimos maturidade, bens, conhecimentos, títulos, peso, cabelos brancos, também armazenamos perdas. Perdemos pessoas importantes, algumas pela inevitabilidade da morte, outras porque simplesmente abandonamos ou nos abandonaram.
Aos poucos vamos nos distanciando da imagem da juventude, cada vez mais idealizada e distante do que nos mostra o espelho.
Desistimos de sonhos e crenças, soterramos a maior parte das nossas expectativas de carinho sob muita praticidade e um jeito mais moderno de ser; aprendemos a censurar a gargalhada espontânea, a nossa ingenuidade e pureza, a resposta rápida e sincera, a pergunta pessoal e como conseqüência perdemos a naturalidade.
Obrigados a criar defesas, procuramos esconder a fragilidade da criança sob a aparência do adulto e nos tornarmos sérios, práticos, professorais, ajuizados e, finalmente conseguimos perder a nós mesmos.
Somente em raros momentos de descontração, em situações que consideramos seguras, conseguimos ser livres e passar por cima da autocensura. Por instantes, somos autênticos. É que não é fácil correr o risco de ter nossas palavras mal interpretadas, acostumados a expor nossas forças e a esconder nossas fraquezas.